Caminhando pela estrada da vida, lá ia
ele de sorriso posto no rosto, para agradar a gregos e a troianos, esquecendo, muitas
vezes, de se alegrar a si mesmo.
Todos cobiçavam a sua vida sem metade
dela saber, pois só reparavam no seu exterior. Como devia ser “cool” ter as
roupas que ele vestia, frequentar as festas “chiques” para que era convidado,
ter um carrão desportivo dos mais modernos, que provavelmente já teria dado
muitas voltas pelos quintais alheios de mundos femininos inesquecíveis, e,
ainda, ter a sorte de possuir uma linda namorada, esbelta, de olhos
esbugalhados e brilhantes, que aparentava ser modelo de capas de revistas
estrangeiras.
Mas, na verdade, apesar de ter tudo
isso, de possuir todas essas regalias, aquele sorriso, que apresentava
diariamente na cara, escondia tristeza, solidão e um vazio quase inexplicável.
Aquele vazio, na realidade, só podia
ser preenchido pela mulher que amava, mas esta só se lembrava dele quando o seu
próprio pensamento recuava no tempo e, à noite, bebendo um “drink” na varanda
do seu apartamento, olhando para as estrelas, ela revivia alguns dos
maravilhosos momentos que viveram juntos.
Com o mundo a seus pés, ele sentia-se
cada vez mais aprisionado a cada dia que passava.
Para ele a vida andava à volta de um
sol, como se do movimento de translação se tratasse. Mas este sol brilhava
poucas vezes, deixando-o nos dias que mais precisava na escuridão de um buraco
negro sem fundo.
Vivendo nesta constante vida
deprimente, os sentimentos bons que tinha para partilhar tornaram-se escassos e
frios como o gelo. As suas palavras passaram a ser rudes e quase insensíveis,
ferindo as pessoas, até aquelas por quem tinha mais afinidade…
Acabara sozinho, claro! A pessoa a
quem tinha dedicado a sua vida até então, não era a luz que o ia guiar na longa
estrada que ainda tinha de percorrer.
Ao abraçar-se a uma loira de olhos
verdes e a outra de olhos castanhos começou a cair em desgraça, pois só
elas, bem frescas, conseguiam apaziguar as dores de um coração roto e de
um tubo no estômago, que só roncava de fome, levando-o a perder tudo o que
tinha construído com o seu esforço e trabalho.
Certo dia, ao acordar, deslumbrou-se
com o sol que raiava pelas fendas da janela e que acariciava o seu rosto. Como era
bom sentir o cheiro da natureza! Porém, em tão pouco tempo, o seu
deslumbramento fora quebrado por um barulho de um carrinha a chegar.
Este assustado levantou-se, desviou
meio milímetro a cortina e meteu-se a espreitar. Era a carrinha da assistência
social!
Bateram à porta. Abriu-a e deparou-se
com uma senhora de bata que esbatia no rosto um sorriso luminoso, de outro
mundo.
Ao ouvir a sua voz, o gelo que
continha no coração derreteu. Olhou-a de cima a baixo. Apesar desta ter uma dívida
com a beleza e uns pneus a mais, o seu jeito menineiro era único.
Esta perguntou-lhe quem era. Ele respondeu
dando um nome falso, uma vez que o nome de família estava no topo da
“socialite” e estava farto de viver no inferno, rodeado de “paparazzies”.
Fora encaminhado para o Centro da Apoio
daquela comunidade.
Ao ver-se ao espelho, depois de muito
tempo sem olhar para ele próprio, não se reconhecia. As suas barbas estavam
enormes, as suas unhas pareciam que estavam pintadas de negro e as suas roupas
tinham um aspeto e um cheiro nauseabundo, como se de um monstro se tratasse.
Tomou um duche, vestiu roupa lavada e
foi a correr ver se a encontrava. Ao chegar à receção ouvi uma conversa que lhe
despertou logo interesse.
Ela procurava um caseiro que lhe
organizasse a vida e que soubesse instruir os seus homens.
Este prontificou-se de imediato. Esta,
confusa e medrosa, ficou com um pé atrás. Naquele momento só pensava: “Como vou
colocar um homem desses na minha casa, sem ao menos saber o seu nome? Bem, vou
dar uma oportunidade. Afinal todas as pessoas merecem uma segunda oportunidade.”
No sábado apresentou-se ao serviço de
barba feita, roupa lavada e com um cheiro a perfume, que deixava rasto por onde
passava. Dava nas vistas por onde andava. A sua patroa nem acreditava como um “sem-abrigo”
poderia ser tão belo por fora. Porém, tinha dúvidas se aquela beleza exterior
se refletia interiormente. Num pensamento audaz, questionou-se se algum dia um
homem daqueles se iria juntar a ela, pois via nele algo de especial.
Os dias foram passando. A paixão entre
eles era notória e o medo de arriscar e de dar o primeiro passo era também
visível aos olhos de ambos e da humanidade.
Num lindo dia de sol, ao terminar o
seu trabalho, juntos decidiram dar uma volta no jardim daquele enorme casarão.
Conversaram, gargalharam, até que, subitamente, o silêncio das palavras
transformou-se num beijo profundo de tocar o coração.
Decidiram viver juntos na eternidade,
aproveitando e vivendo cada dia da sua vida a dois, como se fosse o último
vivido na terra.
Sejam felizes By Smash